𝐂𝐨𝐧𝐡𝐞𝐜𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐞 𝐏𝐞𝐫𝐜𝐮𝐫𝐬𝐨 𝐏𝐫𝐨𝐟𝐢𝐬𝐬𝐢𝐨𝐧𝐚𝐥: 𝐩𝐞𝐫𝐝𝐚𝐬, 𝐝𝐞𝐬𝐚𝐟𝐢𝐨𝐬 𝐞 𝐭𝐫𝐢𝐮𝐧𝐟𝐨𝐬

Sou formado em Administração com Especialização em Gestão Estratégica, e formação parcial em Contabilidade, áreas que me proporcionaram uma base sólida para compreender a dinâmica organizacional, as relações interpessoais no trabalho e os impactos subjetivos da estrutura empresarial na vida dos indivíduos. A formação me despertou para algo além dos números e processos: o ser humano por trás dos cargos, a alma por trás do currículo.

Minha primeira oportunidade profissional veio no setor de call center, do qual sou grato mas também muito marcado positiva e negativamente — um ambiente desafiador, precarizado, marcado por alta rotatividade, pressão constante e pouca valorização do indivíduo. Trabalhar nesse setor me ensinou muito sobre resiliência, escuta ativa e, principalmente, sobre como o talento e o esforço muitas vezes passam despercebidos em estruturas mal gerenciadas. Mesmo me destacando pelo desempenho, por buscar resultados com ética e dedicação, enfrentei um sistema que não reconhece de fato o profissional prodígio, que trata a excelência como apenas um número. Essa experiência foi, ao mesmo tempo, um ponto de partida e um despertar para algo maior: o desejo de compreender mais profundamente o sofrimento humano dentro dos ambientes de trabalho e fora dele, daquilo que levamos conosco do que nos afeta. Somado a tudo isso, minha segunda experiência profissional atrelada a Formação em Administração também me abriu os olhos para as dinâmicas de poder, das sutilezas e teias sociais que perpassam o indivíduo de forma a manipular processos e interações nociva ou benéficamente.

Atualmente, também sou integrante do curso de Licenciatura em Filosofia, onde aprofundo meus estudos em Filosofia Clínica e Psicanálise. Essa jornada acadêmica tem sido fundamental para consolidar minha escuta psicanalítica e crítica, desenvolvendo a sensibilidade necessária para lidar com as complexidades da existência humana. A Filosofia me ensinou a perguntar sem julgar, e a Psicanálise, a escutar sem pressa. Com o tempo, fui unindo esses saberes – Administração, Filosofia e Psicanálise – para construir um olhar integral sobre o sujeito. Acredito em uma escuta que considera tanto o inconsciente quanto as estruturas sociais que moldam o indivíduo. Por isso, minha atuação enquanto Psicanalista é atravessada por uma visão ética, crítica e acolhedora, voltada para quem busca compreender a si mesmo em meio ao caos e às exigências do mundo.

𝐂𝐚𝐦𝐢𝐧𝐡𝐨 𝐏𝐞𝐬𝐬𝐨𝐚𝐥: 𝐝𝐨𝐫, 𝐞𝐬𝐜𝐮𝐭𝐚 𝐫𝐞𝐚𝐥 𝐞 𝐨 𝐫𝐞𝐬𝐬𝐢𝐠𝐧𝐢𝐟𝐢𝐜𝐚𝐫

Ademais, carrego uma trajetória marcada por experiências de exclusão que moldaram profundamente minha forma de escutar e de acolher o outro. Sou um homem trans, e minha identidade foi, por muito tempo, tratada como motivo para rejeição, violência e invisibilidade. Fui expulso da igreja onde cresci, rejeitado por círculos sociais que antes considerava apoio, e constantemente alvo de linchamentos simbólicos por simplesmente existir fora das normas impostas. Enfrentei olhares que anulam, palavras que ferem e silêncios que excluem.

Tive grandes dificuldades para iniciar os primeiros projetos de vida, muitas portas fechadas antes mesmo que eu pudesse bater. Ainda assim, me recusei a aceitar o papel e estatística que o sistema queria me impor. Comecei do zero, me virando como pude, construindo espaços seguros em meio a ambientes hostis. Essa luta constante por dignidade me deu não só força, mas também uma escuta aguçada para quem precisa ser ouvido, para quem sofre calado ou nem sempre encontra espaço para ser quem é. Nasci em um lar atravessado por muitos desafios. Desde cedo vivi em um núcleo familiar marcado por doenças e problemas físicos e emocionais, o que me aproximou desde cedo da fragilidade e da profundidade da condição humana. Essas experiências me ensinaram, na prática, o que a teoria muitas vezes ignora: o valor da escuta que não tenta corrigir, que primordialmente acolhe. Meus pais se divorciaram quando eu ainda era adolescente, e o que para eles era o melhor e os tornou realmente felizes, foi visto com maus olhos para a sociedade e religião.

Hoje, como Psicanalista, levo essa bagagem comigo. Minha escuta é atravessada por vivências reais, por dores que conheço de perto e por uma ética de acolhimento que não julga, não impõe e não tenta moldar o outro, a ponto até mesmo de soltar esta bagagem para estar presente por completo no Setting. Acredito que o processo analítico deve ser um lugar de liberdade, da não-comparação, onde a palavra encontra abrigo, o silêncio encontra compreensão e a dor encontra nome. Minha missão é ser um espaço possível para quem busca ajuda, ressignificação e reconstrução – sem fórmulas prontas, mas com presença e escuta genuína. Sem receitas ou métodos fáceis, sem tentativa de cura ou de salvar o outro e sim uma atitude aberta para ouvir e reelaborar.

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